Pela primeira vez no mundo, brasileiros testam DMT em pacientes com depressão
- Nathan Fernandes
- há 1 dia
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Um novo estudo realizado por pesquisadores brasileiros trouxe resultados notáveis para o tratamento de depressão resistente — uma forma grave da doença que atinge cerca de um terço dos pacientes com depressão.
Pela primeira vez no mundo, cientistas testaram nesses pacientes a substância psicodélica DMT, extraída da jurema-preta (e também presente na ayahuasca), em uma versão inalável, ou seja, administrada por vaporização.
A pesquisa, publicada no periódico Neuropsychopharmacology, envolveu 14 voluntários. Eles inalaram duas doses de DMT em um ambiente controlado. O que surpreendeu os pesquisadores foi a rapidez dos efeitos: em apenas um dia, 11 participantes já apresentavam uma diminuição significativa dos sintomas — e os benefícios duraram até três meses em cinco alguns casos.
Diferente da ayahuasca tradicional, o DMT inalado tem ação curta (entre 10 e 20 minutos) e não precisa ser combinado com outras substâncias. Isso pode representar uma grande vantagem para o sistema público de saúde, já que facilita a aplicação, reduz os custos e diminui o risco de efeitos colaterais.
O estudo de fase 2 — que seguiu a fase 1, feita com pessoas sem depressão — foi realizado por pesquisadores do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN), que tem se firmado como um dos principais pólos de pesquisas psicodélicas no Brasil e no mundo.
“O próximo passo é fazer um estudo que compare os efeitos da DMT com um placebo (substância sem efeito psicoativo) em um número maior de pacientes. Esses passos são necessários para iniciar a regulamentação de um medicamento. Por ora, não sabemos quando esse novo trabalho terá início, mas esperamos que seja em breve.
Os resultados da pesquisa que acaba de ser publicada, apesar de preliminares e com um número muito limitado de pacientes, apontam para a segurança e eficácia da DMT no tratamento da depressão, indicando que a DMT pode ser viável para ser implantado em maior escala, por exemplo, no SUS”, explicou ao portal da UFRN a pesquisadora Fernanda Palhano, coautora do artigo, ao lado do psiquiatra Marcelo Falchi e da psicóloga Isabel Wiessner, da equipe do professor Dráulio Araújo.
Embora os resultados sejam promissores, os cientistas alertam que o uso do DMT ainda está em fase experimental. Ele só deve ser feito em contextos clínicos, sob supervisão médica.
Referência
Falchi-Carvalho, M., Palhano-Fontes, F., Wießner, I. et al. Rapid and sustained antidepressant effects of vaporized N,N-dimethyltryptamine: a phase 2a clinical trial in treatment-resistant depression. Neuropsychopharmacol.