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Homofobia na Psicologia Transpessoal? Entenda o caso de Stanislav Grof

  • Foto do escritor: Iago Lôbo e Sophie Laborde
    Iago Lôbo e Sophie Laborde
  • 14 de jun.
  • 13 min de leitura

Atualizado: 22 de jul.

Imagem: Domínio público. Montagem: Alex Chagas
Imagem: Domínio público. Montagem: Alex Chagas

Resumo: O artigo aborda a trajetória e as polêmicas de Stanislav Grof, psiquiatra tcheco que se consagrou como um dos pioneiros e principais referências na terapia psicodélica mundial. Seu trabalho influenciou profundamente o campo dos estados não ordinários de consciência (ENOC) e da expansão da consciência, além de ser cofundador da Psicologia Transpessoal. Em abril de 2025, uma carta de Grof, divulgada pela MAPS, reconheceu e pediu desculpas por passagens antigas de seus livros que tratavam a homossexualidade de forma inadequada. Ele contextualizou esses trechos como fruto de sua formação psicanalítica e de uma época com visões menos inclusivas, reafirmando que vê hoje a diversidade sexual como saudável. Apesar da carta ter pouca repercussão no Brasil, fora daqui ela serviu como catalisadora para a retomada de um debate amplo e relevante sobre a atualização ética da Psicologia Transpessoal. 

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Imagem: Domínio público. Montagem: Alex Chagas
Imagem: Domínio público. Montagem: Alex Chagas

É difícil ser um estudioso do campo dos psicodélicos, ou mesmo um psiconauta ou entusiasta, e nunca ter cruzado com o nome de Stanislav Grof.


Na trajetória de Iago (co-autor deste artigo) como psicólogo, foi Grof quem lhe abriu as portas para os psicodélicos, mostrando que havia muitos diálogos e práticas possíveis a serem feitas trabalhando com os potenciais terapêuticos dos estados não ordinários de consciência (ENOC) na Psicologia. Iago começou a estudar Grof autonomamente em 2012, e em 2014 começou a formação no então Grof Transpersonal Trainning — hoje remodelado como Grof Legacy Trainning (GLT) —, dando início à inclusão da Psicologia Transpessoal e dos ENOC na prática clínica. 


Com raízes também na psicologia junguiana, Iago já havia se questionado quanto à acessibilidade dos espaços junguianos e transpessoais, muitas vezes com pouca diversidade social. Estaria ele, mesmo involuntariamente, contribuindo para a negligência nas questões de gênero e sexualidade nesses contextos?

Stanislav Grof, atualmente com 93 anos, é um psiquiatra tcheco que se consagrou como um dos pioneiros e principais referências na terapia psicodélica mundial. Sua primeira experiência com LSD se deu em 1956, quando começava seus estudos de psiquiatria em Praga e se voluntariou para uma pesquisa conduzida pelo seu orientador. 


Na época, mesmo mais de dez anos após a descoberta dos efeitos do LSD, ainda predominava a visão psicotomimética — ou seja, a ideia de que os efeitos dos psicodélicos imitavam ou simulavam estados de psicose —, e os estudos terapêuticos eram incipientes. Em uma de suas primeiras experiências com a substância, Stanislav Grof foi exposto a uma luz estroboscópica para observação de alterações cerebrais.


A vivência, marcada por uma intensa dissolução do ego e sensação de união cósmica, levou-o a abandonar a psicanálise e dedicar sua carreira ao estudo dos ENOC.

Grof dedicou ainda 10 anos de pesquisa com LSD na Tchecoslováquia, quando decidiu se mudar para os EUA, em 1967, por conta da instabilidade política no seu país, a qual ele temia atrapalhar sua liberdade acadêmica e profissional. De fato, neste período, a psicodelia já tinha saído dos laboratórios e ganhava cada vez mais espaço entre membros da contracultura nos EUA, bem como má fama entre os mais conservadores, fazendo a farmacêutica Sandoz interromper a distribuição da substância em 1966. 

Foi tempo suficiente, entretanto, para Grof desembarcar nos EUA já consolidado como o “padrinho do LSD”, título dado pelo próprio “pai” da molécula, o químico suíco Albert Hofmann. Com o impressionante histórico de condução de mais de 4 mil sessões de LSD, já em solo norte-americano, junto com sua então esposa Christina (1941-2014), o casal desenvolveu a técnica da Respiração Holotrópica, com fins de substituir os psicodélicos enquanto ferramenta de expansão de consciência dentro de contextos terapêuticos. 

Também nos EUA, Grof se aproximou do que ficaria conhecido como Movimento do Potencial Humano (do inglês, Human Potential Movement), que mobilizou diversos tipos de pesquisadores e praticantes de filosofias orientais em institutos como o Esalen, na Califórnia, em torno de um novo paradigma em saúde mental e novas propostas terapêuticas para tratamento de condições psiquiátricas.


Junto a outros nomes como James Fadiman e Abraham Maslow, Grof esteve presente nas primeiras formulações da Psicologia Transpessoal, cunhando o próprio conceito e estando entre os co-fundadores da International Transpersonal Association.


Posicionando a Psicologia Transpessoal

A Psicologia Transpessoal, em sua origem, emergiu como uma resposta à limitação dos modelos reducionistas, propondo uma visão ampliada do ser humano que integrasse espiritualidade, experiência e consciência.


Mas essa promessa de ampliação precisa ser constantemente revisitada e atualizada à luz dos compromissos ético-políticos do nosso tempo. É nesse movimento que emerge a crítica à “espiritualidade desincorporada" (1), aquela que, ao privilegiar o transcendental em detrimento do imanente (isto é, daquilo que está presente na experiência concreta da vida), ignora os marcadores de raça, classe, gênero, território e sexualidade.


O risco é de sustentarmos práticas supostamente neutras, mas que reproduzem discursos marcados por uma lógica masculina, branca e colonial, que se apresenta como universal ao mesmo tempo que silencia outras formas de saber e ser.


Reivindicar uma espiritualidade incorporada (2) é sustentar uma prática psicológica que acolhe a diversidade de experiências vividas e se posiciona contra todas as formas de opressão. É reconhecer que há espiritualidades que nascem da escuta do corpo e da terra, da ancestralidade e da luta, e que essas vivências são, elas mesmas, epistemologias legítimas. 


Posicionar a Psicologia Transpessoal contra todo tipo de opressão é reiterar que nenhuma espiritualidade é válida se desconsidera a dignidade, o corpo e os direitos de quem a vive.  No movimento de decolonizar o campo transpessoal no Brasil, nos aproximamos de uma psicologia que se alinha com saberes feministas, afro-indígenas, queer e com cosmopercepções que valorizam a interdependência, a solidariedade e o cuidado com nós mesmos, uns com os outros, e com o mundo natural (3). 


Os autores deste texto acreditam que é nossa responsabilidade manter vivo o espírito original do campo, não como apego a nomes ou figuras, mas reafirmando o compromisso ético com a vida.


Por uma Psicologia Transpessoal que compreenda que ampliar a consciência não é apenas atravessar o ego, mas também desfazer as tramas de silenciamento e exclusão que sustentam o sofrimento de tantas pessoas. Nenhuma ampliação de consciência é possível sem o reconhecimento da diferença.


Entre o passado e o presente


Com mais de 20 livros publicados, Grof é atualmente reconhecido como um pioneiro no campo das terapias psicodélicas e importante referência teórica e prática para os diversos modelos clínicos de terapia com psicodélicos desenvolvidos nos últimos anos.


A Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS), hoje uma das mais importantes associações de incentivo à pesquisa com psicodélicos no mundo, o reconhece como referência para seu modelo de pesquisas de ensaio clínico, além de editar seus livros.  

Também faz parte de seu legado a proposta da “Cartografia Expandida da Psique”, que inclui os níveis perinatal e transpessoal da consciência — ampliando o modelo tradicional que considerava apenas os níveis inconsciente pessoal e coletivo, descritos por Freud e Jung.


Essa cartografia foi desenvolvida a partir dos conceitos de estado holotrópico de consciência e emergência psicoespiritual, além dos sistemas teóricos das Matrizes Perinatais Básicas (BPM, do inglês Basic Perinatal Matrices) e das Experiências Condensadas (COEX, do inglês Condensed Experience System).


Um ponto menos popular da sua teoria, porém, foi alvo de críticas e debates no meio psicodélico em abril de 2025. Na ocasião, a MAPS divulgou uma carta aberta escrita pelo próprio Grof, afirmando que preocupações foram levantadas sobre alguns dos escritos anteriores do psiquiatra, “que foram interpretados como enquadramentos da homossexualidade de maneiras que não se alinham com as compreensões atuais da sexualidade e identidade humanas”.


A MAPS reconheceu ainda que a publicação desses escritos, sem as devidas problematizações, pode contribuir com desinformação e sofrimento, se desculpando por isso, e afirmando que estes trechos foram excluídos das edições mais recentes do trabalho de Grof. 


No texto  de cinco parágrafos, Grof afirma que seus primeiros escritos foram elaborados dentro de sua formação psicanalítica, num contexto em que muitas culturas criminalizavam certas práticas entre pessoas do mesmo sexo ou gênero, e que ele tentava comprender este aspecto humano para além da simples criminalização.


O autor aborda rapidamente pontos específicos da sua teoria que foram problematizados principalmente por membros da comunidade LGBTQIAP+: sobre a discussão em relação ao medo de se tornar homossexual durante uma experiência psicodélica, o psiquiatra afirma que este era um temor recorrentemente relatado pelos seus pacientes, e que ele não estimulava esse tipo de temor, pelo contrário, assegurava que experiências com ENOC fortaleceriam a própria “sexualidade autêntica” do paciente, em vez de promover uma “transformação homossexual”; quanto à sua recomendação de que experiências psicodélicas fossem acompanhadas por uma dupla terapêutica composta por um homem e uma mulher — prática amplamente adotada como boas práticas no campo psicodélico —, Grof ressalta que essa orientação foi formulada em um contexto em que a psiquiatria era dominada por homens. A proposta visava, sobretudo, reconhecer e incluir a presença feminina nesses espaços terapêuticos, promovendo maior equilíbrio e acolhimento durante as sessões.


Reconhecendo que negligenciou até agora uma correção pública sobre esses posicionamentos, Grof pediu desculpas pela confusão e dor que causou a seus leitores, e afirmou que há muito tempo considera a atração dentro do mesmo gênero como uma expressão saudável da sexualidade humana. 


Para o psicoterapeuta Álvaro Jardim — que soma mais de 45 anos de experiência clínica, está em diálogo constante com Stanislav Grof há três décadas e há 25 anos coordena o Grof Legacy Training no Brasil —, trata-se de um caso de anacronismo. “Os livros podem conter algo que hoje soa inadequado, porque, na época, havia outros tipos de pensamentos. Mas, se há algo nos livros mais recentes, é preciso corrigir. Grof sempre teve uma postura muito respeitosa e qualificada no trato com todas as pessoas”, nos disse o psicoterapeuta.


No Brasil, a carta não teve grande repercussão, apesar da existência de uma comunidade transpessoal e grofiana ativa no cenário psicodélico. Vale destacar que Álvaro Jardim e sua companheira, Dora Jardim, são coautores da pesquisa (4) com MDMA para o tratamento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), conduzida pelo Instituto Phaneros. Eles foram selecionados para realizar o acompanhamento psicológico dos participantes justamente por sua longa trajetória com ENOC, baseando-se no modelo psicoterapêutico desenvolvido por Grof. 


Em poucas oportunidades os autores deste artigo viram pesquisadores questionarem o trabalho de Grof. As duas exceções foram o biólogo Luis Felipe Valêncio, durante um dos encontros online que a Associação Psicodélica do Brasil começou a promover a partir de 2020, e o professor de psiquiatria da UNICAMP Luís Fernando Tófoli, durante uma fala no II Congresso Brasileiro sobre Psicodélicos, em 2024, também organizado pela APB. Ambos membros da Cooperação Interdisciplinar para a Pesquisa e Extensão da Ayahuasca (ICARO, do inglês Interdisciplinary Cooperation for Ayahuasca Research and Outreach), apontaram em suas falas para a relação do trabalho de Grof e antigas práticas de terapias de conversão com LSD.


Valêncio já integrou o CP e atualmente faz parte do coletivo Psicodelia Baixo Astral (PBA), que tem provocado a cena psicodélica brasileira a refletir criticamente sobre as violências transfóbicas e as dinâmicas de poder presentes no meio. No artigo “A ferramenta, a cura e a ferida: o histórico da ‘cura gay’ nas terapias psicodélicas”, Valêncio aprofunda essas questões e revela como discursos terapêuticos podem reforçar normas de gênero e sexualidade sob a aparência de cuidado.


Fora do Brasil, entretanto, a carta serviu como catalisadora para a retomada de um debate amplo e relevante. Em resposta à publicação de Grof no site da MAPS, um grupo de pesquisadores publicou uma carta aberta nos portais da OPEN Foundation e do Chacruna Institute5, dois importantes veículos da cena psicodélica. Dois dos autores, Alex Belser e Andrea Ens, assumem logo no início do texto parte da responsabilidade pela carta: no ano anterior, eles se encontraram com Grof para apresentar um resumo contendo trechos homofóbicos de sua obra e solicitar um posicionamento público sobre o tema.


Apesar de elogiar a atitude da MAPS e de Grof, o grupo defende que o posicionamento contido na carta é insuficiente: “Distorce o período temporal de suas declarações, sugerindo que todas eram muito mais antigas do que realmente são; oferece apenas um pedido de desculpas condicional, (...) e deixa aberta a possibilidade de o trabalho de Grof ser usado em terapia de conversão”.


A carta continua por quase 3 páginas destacando e abordando em detalhes as várias passagens em que Grof aborda a homossexualidade enquanto um “distúrbio emocional” (em 1988, no The adventure of self-discovery: Dimensions of consciousness and new perspectives in psychotherapy and inner exploration), uma “patologia sexual” (também em 1988), uma “síndrome psicopatológica” (em 2009), um “distúrbio sexual” (em 2000, no Psychology of the future: lessons from modern consciousness research) e um “desvio sexual” (em 2009, no LSD: Doorway to the Numinous). Os autores chamam atenção para o fato desses destaques mais recentes terem sido publicados 34 anos depois da American Psychiatric Association (APA) retirar a homossexualidade da lista de transtornos mentais, em 1973.


Na conclusão do documento, os autores parecem reconhecer que talvez não desse para esperar muito mais do que foi capaz de oferecer Grof, um homem cis no auge dos seus 93 anos: “É nossa responsabilidade coletiva — pesquisadores, terapeutas, educadores e membros da comunidade — garantir que o futuro da terapia assistida por psicodélicos rejeite categoricamente a noção de que a homossexualidade é patológica. Devemos isso àqueles que foram sobrecarregados pelos danos da terapia de conversão: falar abertamente, pedir desculpas sem reservas e se comprometer a afirmar o cuidado”. 


Este também é nosso esforço com este texto: reconhecer a importância e os equívocos do trabalho de Grof, mas, principalmente, pensar a atualização das práticas e teorias psicodélicas para o mundo psicodélico diverso e inclusivo que queremos.


Assim, faz-se relevante citar mais uma vez as contribuições do coletivo Psicodelia Baixo Astral (PBA). No artigo “pCIScodelia: cisnorma e reprodução de violências em ambientes psicodélicos” (5), publicado no livro “Psicodélicos no Brasil vol.2”, organizado pela APB, Julia Bueno e Pietro Benedito, membros do PBA, revelam uma violência estruturante contra pessoas queer refletida na “negação de conhecimentos e existências trans e travestis como parte integral da redução de danos, assim como os diferentes níveis de silenciamento que sofremos ao denunciar ou questionar ações transfóbicas nestes contextos pCIScodélicos”. 


Como aprendemos com os autores, a cisnorma e a branquitude devem reconhecer seus lugares normativos e de privilégio para não promover violência e re-traumatização de grupos mais vulnerabilizados. O primeiro passo é quebrar com o “CISlêncio” e olhar a problemática de frente, com coragem e intenção de novas construções, e sustentando os desconfortos inerentes a estas transformações culturais e individuais.

Essa postura parece estar de acordo com a conclusão da carta em resposta a Grof, com a qual concordamos e nos convoca para nos posicionar — independente do “lugar de fala”: “(...) Ao mesmo tempo em que responsabilizamos Grof por manter crenças homofóbicas ao longo de sua carreira, devemos também confrontar nosso próprio desconforto em reconhecer que uma figura outrora enaltecida pode moldar um campo inteiro de maneiras profundas e causar danos reais. Nossa relutância em vê-lo em toda a sua complexidade pode refletir nossos próprios preconceitos e impulsos nocivos rejeitados. Somente assumindo essa complexidade com honestidade, humildade e coragem podemos promover um futuro mais justo na medicina e nas práticas psicodélicas”.


Carta de Grof na íntegra (em tradução livre)

Carta Aberta à Comunidade Mundial 


Membros da comunidade LGBTQIA+ e outros me alertaram para o fato de que vários dos meus textos publicados discutem a homossexualidade como um transtorno psicológico. Meus primeiros textos foram elaborados no contexto da minha formação psicanalítica e foram escritos em uma época em que muitas, senão a maioria das culturas, criminalizavam comportamentos entre pessoas do mesmo sexo, sendo a prisão uma ameaça real para aqueles que agiam de acordo com suas atrações naturais. Eu buscava compreender esse aspecto da humanidade de uma perspectiva mais profunda do que a mera criminalização.


Embora eu tenha me esquecido de corrigir publicamente essas declarações até agora, quero deixar bem claro que há muito tempo considero a atração pelo mesmo sexo uma expressão saudável da sexualidade humana. Espero que aqueles que trabalharam comigo ao longo dos anos tenham vivenciado minha abertura e amor por todas as pessoas, com respeito inabalável pelas orientações e expressões sexuais individuais. Se esses escritos causaram confusão ou dor aos leitores, lamento profundamente e peço desculpas de todo o coração. Essas passagens foram removidas da republicação recente dos meus livros e não foram incluídas na minha enciclopédia, Way of the Psychonaut.


Preocupação também foi expressa em relação à minha discussão sobre medos comuns relatados por pessoas que abordam o trabalho com psicodélicos, incluindo o medo de se tornarem homossexuais. Do nosso ponto de vista atual, parece óbvio que tais medos surgiram de proscrições e repressões sociais introjetadas. No entanto, o fato é que esse medo me foi relatado com frequência suficiente para que eu o tenha notado e o incluísse em meus escritos sobre o trabalho com LSD. Não fiz nada para provocar uma declaração desse medo e, honestamente, a princípio fiquei surpreso que isso fosse expresso.


Minha resposta na época incluiu a garantia de que experiências de estados não ordinários tendiam a fortalecer o senso de identidade sexual do indivíduo, em vez de causar uma transformação homossexual. No contexto da época, considero essa resposta geralmente útil para aliviar a apreensão em relação a iniciar uma sessão. Não se tratou de uma tentativa minha de desencorajar a descoberta da sexualidade autêntica, mas sim da minha garantia de que os psicodélicos não alteram a natureza autêntica do indivíduo. Hoje, uma resposta totalmente diferente provavelmente seria apropriada, embora pareça improvável que esse medo seja tão comumente relatado agora como era na época das minhas primeiras pesquisas. 


Meu último comentário envolve a "melhor prática" recomendada para uma díade sentada em sessões psicodélicas, que inclua um homem e uma mulher. Historicamente, essa prática surgiu em parte para afirmar a necessidade de inclusão de mulheres em díades sentadas. As práticas psiquiátricas e até mesmo de crescimento pessoal eram dominadas por homens em anos anteriores. Espero que, nos tempos atuais, praticantes e pesquisadores busquem orientação de participantes individuais quanto à escolha de acompanhantes em relação ao gênero e à identificação de gênero. 


Isso não parece uma tarefa difícil. Eu estaria interessado em pesquisar e desenvolver práticas que abordem essa questão. 


Stanislav Grof


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REFERÊNCIAS


  1. Hocoy, D. (2016). Transpersonal psychology in the age of ISIS: the role of culture, social action, and personal transformation. In F. J. Kaklauskas, C. J. Clements, D. Hocoy, & L. Hoffman. (2016). Shadows & light: Theory, research, & practice in transpersonal psychology. University Professors Press.² Ferrer, N. J. (2017). Participation and the mystery: Transpersonal essays in psychology, education, and religion. State University of New York Press.


  1. Ferreira, A. L. et al. Notas para decolonizar os estudos transpessoais no Brasil: contribuições do pluriperspectivismo participativo. Psicologia Ciência e Profissão, 43, e253624. doi:10.1590/1982-3703003253624


  1. Jardim AV, Jardim DV, Chaves BR, Steglich M, Ot'alora G M, Mithoefer MC, da Silveira DX, Tófoli LF, Ribeiro S, Matthews R, Doblin R, Schenberg EE. 3,4-methylenedioxymethamphetamine (MDMA)-assisted psychotherapy for victims of sexual abuse with severe post-traumatic stress disorder: an open label pilot study in Brazil. Braz J Psychiatry. 2021 Mar-Apr;43(2):181-185. doi: 10.1590/1516-4446-2020-0980. PMID: 32638920; PMCID: PMC8023155.


  1. Belser, A. B., Ens, A., Brennan, W., Goldpaugh, D. D., Guss, J. (2025, March 28). An Open Letter Reply to Dr. Stan Grof. Chacruna Institute. https://chacruna.net/an-open-letter-reply-to-dr-stan-grof/. Also published on OPEN Foundation. https://open-foundation.org/an-open-letter-reply-to-dr-stan-grof/.6 BUENO, Julia Pereira; BENEDITO, Pietro. pCIScodelia: cisnorma e reprodução de violências em ambientes psicodélicos. In:  RODRIGUES, Sandro; BESERRA, Fernando; MONTEIRO, Daniela (Orgs.). Psicodélicos no Brasil: Arte e Política, Coleção Psicodélicos no Brasil vol.2. Editora CRV: Curitiba, 2024.

  2. BUENO, Julia Pereira; BENEDITO, Pietro. pCIScodelia: cisnorma e reprodução de violências em ambientes psicodélicos. In:  RODRIGUES, Sandro; BESERRA, Fernando; MONTEIRO, Daniela (Orgs.). Psicodélicos no Brasil: Arte e Política, Coleção Psicodélicos no Brasil vol.2. Editora CRV: Curitiba, 2024.






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